Já disse Guimarães Rosa, em Grande Sertão: Veredas: “A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem.”
Eu acrescentaria: e resiliência. A vida também quer da gente resiliência.
Pelas ciências humanas ela pode ser definida como a nossa capacidade de enfrentar as adversidades da vida sem perder a nossa autenticidade e sem abandonar nossos valores, a nossa essência.
Como na quase totalidade dos assuntos relacionados à inteligência emocional, o conceito é mais simples do que a prática. Fácil falar de resiliência, desafiador vivê-la.
Desafiador nos reequilibrarmos constantemente entre as tantas adversidades que nos acontecem. Existem sentimentos e reações que nos acometem, se não a todos, à maioria de nós quando estamos diante de algum grande problema, crise ou situação grave. Isso já foi objeto de estudos diversos, e deu origem inclusive à curva da mudança Kübler-Ross, criada pela psiquiatra suíça Elisabeth Kübler-Ross.
A professora Elisabeth tinha o objeto de ajudar as pessoas a lidarem com o luto, com as perdas e traumas, e, portanto, mapeou e estudou os sentimentos humanos diante dessas situações. Tal estudo acabou dando origem a outras metodologias de gestão de mudança, que hoje são inclusive amplamente utilizadas no mundo corporativo.
A partir de um evento ruim o primeiro sentimento que vivenciamos é o choque, a surpresa. Logo em seguida vem a negação, a procura (muitas vezes inútil) de que o que está nos acontecendo não é verdade. A partir daí, frustração, raiva, depressão. Quase como se estivéssemos indo para o fundo. O fundo de um poço. Mas, ultrapassado esse “fundo”, começamos a emergir. Emergir como uma energia de aceitação, e, em muitos casos, até mesmo um certo engajamento e positividade com o que podemos vivenciar em seguida. Fazer do limão uma limonada… já ouviu essa expressão? E, por fim, a curva da mudança nos traz o sentimento de integração. Se conseguimos passar por todo esse caminho, surgiremos como um novo indivíduo, maior e melhor.
É claro que cada caso é um caso. Existem problemas mais sérios que outros, situações mais desafiadoras que outras. Feridas que demoram mais tempo para sarar e cicatrizar. Mas, no final do dia, ultrapassar obstáculos é o maior exercício para desenvolver o “músculo” da resiliência.
Sim, como qualquer habilidade emocional, ela pode ser desenvolvida. Ninguém nasce resiliente. Alguns têm mais energia para enfrentar os desafios que a vida apresenta, mas isso pode – e deve – ser aprendido. Quer praticar a resiliência? Pense nela como um conjunto de atitudes.
VEJA. Veja o que está realmente acontecendo, os dados e fatos da situação.
SINTA. Tome consciência do que está sentindo, de todos os seus estados emocionais.
DEIXE IR. Aceite que as coisas já não serão mais as mesmas e desapegue.
DEIXE VIR. Observe a situação sob um novo olhar, avalie as alternativas e o lado bom, se houver.
RECONECTE-SE. Ao que é importante pra você. Ao que ajuda você na superação. A fé, os amigos, a família, uma atividade física, um livro, um propósito maior. Tantas coisas nos ajudam a caminhar.
FAÇA. O que é preciso fazer. O que a vida está pedindo de você. Muitas vezes, temos que fazer o que é preciso, nem sempre o que queremos. Se comprometa com o que precisa ser realizado por você.
Não é fórmula mágica. São ações conscientes que podem ajudar – e muito – a passar pelas pedras do caminho.
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LUCIANA GALLO
Luciana Gallo é co-fundadora da Amadoria, facilitadora de processos colaborativos, de desenvolvimento pessoal, e de mudança organizacional. Mentora e palestrante, ajuda as pessoas a (re)significarem suas vidas e trabalhos. Atua na expansão do conhecimento e da consciência da pessoa e do profissional dentro das organizações e das comunidades.
“Vamos marcar, poxa! Estou morrendo de saudades”... E lá se passaram dois,
A escuta é um processo importantíssimo na comunicação, e uma das grandes que
“Ouvir somente com os ouvidos é uma coisa. Ouvir com o intelecto é outra. Ma